quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Crise financeira x Imigração

Crise leva a 'pausa' na imigração para países ricos, diz estudo

Manifestação a favor de controle à imigração no Arizona
Leis para conter imigração reforçaram efeito da crise para imigrantes
Um relatório sobre as tendências de migração em 2010 indicou que a crise econômica global forçou uma "pausa" no fluxo de pessoas para os países ricos.
O desemprego agudo em setores típicos de mão-de-obra estrangeira (em países como a Espanha) e o ritmo de crescimento econômico incapaz de gerar novos postos de trabalho (em toda a Europa e nos EUA) levaram à interrupção do intenso fluxo de pessoas para os países ricos que marcou as três últimas décadas, avalia o estudo.
Na Espanha, que deveu grande parte do seu boom à construção civil, um típico nicho de mão-de-obra imigrante, o alto desemprego fez com que a entrada de trabalhadores da União Europeia caísse quase 70% entre 2008 e 2009.
Outros países europeus que tinham se tornado receptores de estrangeiros durante o boom econômico da última década – como Irlanda e Grécia – voltaram ao seu tradicional fornecedor de emigrantes.
No caso irlandês, o número de imigrantes vindos de novos membros da UE caiu cerca de 60% entre 2008 e 2009.
Medidas de patrulhamento de fronteiras reforçaram o efeito da crise. Na UE, o número de imigrantes ilegais tentando entrar pelo mar foi reduzido em cerca de 40% desde 2008, e continua caindo este ano.
O estudo foi elaborado pelo instituto de pesquisas Migration Policy Institute, com sede em Washington, a pedido da BBC.
Fluxo
Nos EUA, uma das consequências da crise foi que, no ano passado, a entrada legal de trabalhadores estrangeiros caiu em todas as modalidades de visto, notando-se inclusive uma redução de 50% nos vistos sazonais emitidos para trabalhadores com baixa qualificação.
Ao mesmo tempo, atestando um menor fluxo de indocumentados, o número de detenções de pessoas tentando cruzar ilegalmente a fronteira sul do país caiu quase 40% entre 2007 e 2009.
Nos cálculos do Departamento do Interior americano, dos cerca de 10,7 milhões de imigrantes ilegais que vivem no país, quase 3 milhões entraram na década 1985-1995. O ritmo mais que dobrou na década seguinte, quando entraram mais de 6 milhões.
Mas, entre 2005 e 2008, a entrada de ilegais teria caído para pouco mais de 900 mil. Estima-se que os brasileiros que moram nos EUA sejam 150 mil.
"Parece claro que depois de duas décadas de crescimento sustentado da população imigrante, os Estados Unidos estão experimentando uma espécie de 'pausa' na imigração", diz o relatório.
Se os números mostram uma desaceleração da entrada de imigrantes nos EUA, há, entretanto, menos clareza em relação à saída.
Nos últimos três anos, diz a pesquisa, o número de estrangeiros registrados pelo censo mensal dos EUA não aumentou nem diminuiu, permanecendo entre 37 milhões e 38 milhões de indivíduos.
Imigrante africano
Muitos africanos tentam entrar na Europa por mar
Por isso, o relatório considera prematura a avaliação de que a crise tenha resultado em um fluxo de retorno significativo de trabalhadores imigrantes aos seus países de origem.
Emprego
Para os que ficaram nos países de destino, o relatório notou uma deterioração nas condições de trabalho e emprego.
Certos grupos, como os hispânicos nos EUA, os andinos e norte-africanos na Espanha, e os paquistaneses e bengalis no Reino Unido, foram especialmente atingidos.
O desemprego entre os trabalhadores estrangeiros chegou a 41% na Espanha, 37% na Suécia e 20% no Canadá – índices que podem chegar ao dobro da taxa entre os nativos.
A Espanha é um exemplo típico porque, como o documento apontou, o seu crescimento na última década do século passado se deveu em grande parte a setores de mão-de-obra intensiva e barata, como a construção civil e os trabalhos domésticos.
Ao afetar esses setores, a crise atingiu o coração da atividade de grande parte dos estrangeiros. Hoje, 12% da mão-de-obra local (5,7 milhões de trabalhadores) são imigrantes, estima-se que 110 mil sejam brasileiros.
É interessante notar que homens e mulheres foram atingidos de maneira diferente. Como estas últimas tendem a se concentrar em setores mais estáveis (como o doméstico ou de saúde), acabaram sendo mais poupadas que os homens.
Nos EUA, onde o efeito da crise sobre homens e mulheres também é diferente, chegou-se a cunhar um termo – "mancession" (junção das palavras man, homem, com recession, recessão) – para o fenômeno.
Mas há ainda países em que diversos setores da mão-de-obra imigrante estão sendo menos afetados pelo desemprego que o grosso da população local.
Nesta categoria, estão os indianos que, na Grã-Bretanha, destoam de outros grupos do subcontinente indiano (no qual também estão nativos de Bangladesh, Paquistão e Sri Lanka) por sua forte presença no mercado de trabalho qualificado.
A imigração causou mudanças visíveis nas comunidades locais, em alguns casos criando preocupações em relação à integração social e criando pressão no serviço público. Inevitavelmente, muitos questionaram o impacto desses novos imigrantes na força de trabalho doméstica.
Migration Policy Institute
O desempenho dos grupos mais qualificados fez com que a diferença na taxa de emprego entre nativos e estrangeiros não mudasse com a crise.
Pausa ou mudança?
Para o instituto, uma das dificuldades de estudar o impacto da crise é separar o que pode ser atribuído à turbulência financeira e o que é resultado de políticas públicas destinadas a conter a entrada de trabalhadores que começaram a entrar em vigor na mesma época.
Por exemplo: na Grã-Bretanha a concessão de vistos de trabalho caiu cerca de 40% entre 2008 e 2009 e "não está claro se as novas regras ou a crise foram responsáveis por esse declínio".
Depois de quase dobrar nos últimos trinta anos, a proporção de mão-de-obra imigrante no mundo chegou a 10,5% em 2010. Estudos sobre o tema de antes da crise já previam que esse processo desaceleraria a partir de agora.
"A imigração causou mudanças visíveis nas comunidades locais, em alguns casos criando preocupações em relação à integração social e criando pressão no serviço público. Inevitavelmente, muitos questionaram o impacto desses novos imigrantes na força de trabalho doméstica", diz o relatório.
Seja a "pausa" na imigração apenas um respiro no fluxo de pessoas ou sinal de uma possível desaceleração que já deveria ocorrer, o fato é que, para o estudo, a recente diminuição da imigração no mundo "tirou um pouco de pressão das preocupações do público, em um momento em que os empregos já são escassos".

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